Desde que foi condenado por tráfico de drogas, em 2002, Belo nunca quis falar sobre isso. Pela primeira vez, o cantor, um dos mais populares do país, abre o jogo para a Canal e faz revelações surpreendentes, como esta: ‘Sou e sempre fui inocente. Fui preso por tráfico de drogas sem nunca ter sido pego nem sequer ter experimentado qualquer droga’
Com a noiva Gracyanne: fotos só ao lado dela
No dia 15 de março de 2010, Belo recebeu da Justiça um indulto que significa, em outras palavras, um perdão judicial. Desde aquela data, ele, que foi preso em 2002 por envolvimento com o tráfico de drogas, é um homem livre. Na mesma época, recebi uma missão de meus editores: uma entrevista reveladora com Marcelo Pires Vieira, o Belo, sobre toda a sua vida.Era nítido que não havia interesse da parte dele em falar. A gravadora Sony BMG pressionou muito para que a entrevista não fosse realizada. Eles sabiam que iríamos tocar no “delicado assunto”. Aliás, a palavra cadeia soa como um “palavrão” entre aqueles que cercam o pagodeiro. Por isso, me foi imposta uma longa espera. Depois de incontáveis remarcações, a conversa foi agendada para o dia 5 de agosto. Durante mais de duas horas de papo, admito, a entrevista não fluiu. A assessora do cantor interrompeu diversas vezes, principalmente quando falávamos o tal “palavrão”, e o próprio cantor parou o gravador outras tantas para não responder algumas questões. Ele explicava o porquê e continuávamos a conversa.Meu grande concorrente nesta entrevista foi o livro que Belo promete lançar após o carnaval. No fim, não estava satisfeito. Disse isso a ele e pedi um novo encontro. O pagodeiro topou. E, mais uma vez, várias datas foram marcadas, desmarcadas e remarcadas. Para que, finalmente, na última segunda-feira, dia 23, conseguisse a tão aguardada entrevista.
Belo já chegou à churrascaria Pampa Grill, na Barra, fazendo brincadeiras. O clima era outro. E pudemos, felizmente, falar abertamente sobre tudo. Ele admitiu que houve muita traição no fim do namoro com Viviane Araújo, falou da sua relação com as drogas, da vaidade, da falta de amigos, e lembrou do pai e da infância pobre. E é sobre este novo Belo que escrevo a partir de agora.
Achei melhor começar este texto falando logo de Viviane Araújo. No último carnaval, encontrei Belo no camarote da Vila Isabel e ele me puxou num canto e me disse que eu não deveria “dar moral” para quem só aparecia uma vez por ano. Ele referia-se à ex, que é rainha do Salgueiro. “Você tem que dar moral para mim e para a Gracyanne”, disse, na época. A declaração deixa claro que, para Belo, falar de Viviane ainda é um problema. Recentemente, vendeu a mansão que morava no condomínio Maramar, no Recreio, e teve que dar metade do valor para a ex, que, com o dinheiro, comprou seu primeiro apartamento, onde vive com o jogador de futebol Radamés.
Na entrevista, lembrei a Belo que, em 28 de junho de 2006, durante o relacionamento dele com Viviane, publiquei uma nota que dizia que ela estaria tendo um affair com Radamés. Ela ligou para redação, gritou e desmentiu a nota. A verdade viria à tona um ano depois. Mas Belo não é uma vítima nesta história. Lembrei a ele também que, comentava-se que Gracyanne Barbosa o visitava “intimamente” na cadeia fora dos dias de visita.
— Você vai colocar que (a traição) foi de ambas as partes? —, perguntou Belo: — Então, tá. Houve traição, sim. De ambas as partes.
Gracyanne garante, porém, que nunca pisou na prisão enquanto Belo esteve lá.
— Namorava outra pessoa. Mas ele terminou comigo achando que eu tinha algo com o Belo. Era só amizade —, disse a poderosa Gracyanne.
"Houve traição de ambas as partes (sobre Viviane Araújo)"
Poderosa, sim! Belo só concordou em conversar comigo se Gracyanne estivesse presente. Em todas as fotos, ela tem que estar ao lado do amado e, quem conhece Belo há algum tempo, diz que ele é outra pessoa graças à morena. Se alguém da gravadora quer que ele compareça a algum local em determinada hora, por exemplo, é Gracyanne quem atende o telefone e confirma a presença do amado. Foi ela que fez com que Belo se afastasse de muito “sanguessuga”. Aparentemente ingênua, Gracyanne esconde por trás daqueles músculos uma mulher muito ressabiada
— Não confio em ninguém — diz.
E Belo sabe que está na mão dela:
— Você pode falar o que quiser de mim, que eu não ligo. Mas não fale mal dela, ok?
O que para muitos pode soar como uma ameaça, para mim fica claro que é uma paixão avassaladora que os dois ainda vivem, depois de três anos juntos.
— Transamos todos os dias —, confessa ele, sob o olhar (e o sorriso cúmplice) dela: — Quando recebi o indulto, fiquei dois dias em casa, transando direto com ela.
Belo jura que nunca usou Viagra (ou qualquer outro remédio parecido):
— Meus amigos já usaram, mas eu não. Quando for preciso, vou usar sem nenhum problema.
O sexo sempre esteve muito presente na vida de Belo. Ele perdeu a virgindade aos 11 anos. Isso mesmo: aos 11!
— Tinha fama de muito namorador quando era pequeno. Dos 12 aos 15 namorava 3, 4, 5 meninas ao mesmo tempo. Daí surgiu o meu apelido: ‘Belo’ —, conta.
Foi justamente quando estávamos falando sobre sexo que Belo mandou uma frase bombástica:
— Nunca me relacionei com homens, nunca usei nenhum tipo de droga e nem bebida alcoólica. De resto, já fiz de tudo na vida.
Belo levou alguns segundos até elaborar esta frase porque, segundo ele, foi escrita em seu livro de uma maneira, digamos, mais rude, principalmente quando se refere a sexo com homens.
Mas uma frase dessas não pode passar assim, em brancas nuvens. Custei a acreditar que ele nunca tinha bebido álcool nem sequer experimentado droga.
Vamos por partes. Primeiro, Belo explicou sobre a bebida.
— Meu pai bebia muito, ele morreu de cirrose hepática, aos 57 anos. Era muita pinga. Meu filho tinha acabado de nascer, eu estava com 17 anos. Depois que vi a maneira como ele morreu, decidi não chegar perto de álcool. Não bebo cerveja, nem champanhe no Natal. Os quatro meses finais da vida dele foram uma coisa absurda. A gente tinha que correr com meu pai para o hospital. Ele já não tinha mais fígado. O álcool é terrível — diz.
Depois da explicação da bebida, perguntei se ele nunca se aproximou mesmo de nenhum tipo de droga:
— Nunca usei. Até já me ofereceram algumas vezes, na periferia, nas comunidades. Cresci vendo de tudo um pouco, entendeu? — lembra Belo, parecendo fugir do assunto: — Acho que sou muito mais conhecedor da vida pelas experiências que tive. Fui criado na rua, ficava três, quatro dias fora... Bem cedo comecei a tocar. Ganhei um cavaquinho do meu pai e sempre soube que seria músico. Aí, quando me tornei pai, saí de casa.
O menino que nasceu no humilde bairro da Saúde, em São Paulo, sempre foi muito vaidoso. Graças a seu único irmão, Maurício, três anos mais velho, Belo sempre andou “na moda”.
— Meu irmão já trabalhava e podia comprar roupas caras. E eu usava as peças, mesmo alguns números maiores que o meu — conta.
No inicio de carreira, cabelos negros e bigodinho: lourice só depois de uma "ação" entre pagodeiros
Hoje, a vaidade dele tem alguns limites. Belo garante que nunca colocou botox (Gracyanne diz que tenta convencê-lo a “experimentar”) e não tem coragem de entrar na “faca” numa cirurgia plástica ou uma lipoaspiração: — Por quê? Eu preciso? —, questiona o narcisista músico, que usa quase todos os produtos antienvelhecimento de Gracyanne. Mesmo aqueles que ele não sabe exatamente para que servem: — Tem um sabonetinho que é maravilhoso, adoro. Quando está começando a acabar, falo: ‘Amor, compra outro para a gente’.
A marca principal de Belo é seu cabelo descolorido. Mas o que poucas pessoas sabem é como ele ficou louro.
—Estava no Soweto e era do mesmo escritório do Exaltasamba e do Katinguelê. O Chrigor, certa vez, me avisou que iria pintar o cabelo de vermelho. Disse que ele era louco. Ele pintou e ficou horrível. E sugeriu, então, que eu pintasse o cabelo de louro. Não gostei da ideia. Ainda mais porque usava um bigodinho. Um belo dia, ele, o Pinha, que até hoje é do Exaltasamba, e Jorge Hamilton, que era o empresário, me seguraram na cadeira, vieram com uma lâmina de barbear e tiraram só metade do meu bigode. Aí, passaram um descolorante na minha cabeça que ficou ardendo durante horas —revela.
Hoje, o próprio Belo, com ajuda de Gracyanne, é claro, pinta e corta o cabelo de 15 em 15 dias.
— Uso só uma água oxigenada que tem aloe vera — conta.
Um dos raros momentos em que ficou moreno, depois de famoso, foi quando esteve na prisão.
— Eu podia pintar lá dentro, mas queria ter uma outra imagem — justifica.
Louco por tecnologia: em casa iPhones e TVs gigantescas
Extremamente caseiro, Belo acaba de comprar uma mansão que ainda passa por uma longa — e quase interminável — reforma. Dono de quatro cachorros (dois schnauzers, um bulldog inglês e um golden retriever), ele mostrou um lado que pouquíssimas pessoas conhecem: ele é fascinado por tecnologia. Já tem em casa um iPad e um computador moderníssimo, que nem está à venda no Brasil. Além disso, tem vários iPhones (telefones que funcionam como microcomputadores) e uma TV de 250 polegadas, gigantesca, quase do tamanho de uma tela de cinema.
Falar de casamento com Belo e Gracyanne parece conversa para boi dormir. Eles vivem dizendo por aí que vão se casar, que querem que a cerimônia aconteça na Candelária, mas ela nunca foi marcada.
— Agora vou para Angola fazer shows e depois para os Estados Unidos. Quem sabe a gente se casa em Las Vegas? — cogita.
Belo não tem religião, embora tenha cantado em cultos de uma igreja evangélica que funcionava dentro da Penitenciária Ary Franco. Mas garante que não se converteu a nenhuma crença na cadeia.
— Acredito muito em Deus. Tenho a minha fé pessoal, mas sou aberto para tudo. Evangélico, católico, macumbeiro, não tenho problema com nada...
Os fãs nunca deixaram Belo de lado, mesmo quando esteve na prisão
O único “problema” de Belo é mesmo falar do período em que ficou atrás das grades, condenado em 2002 por associação e tráfico de drogas. Desde então, jamais havia aceitado falar sobre este episódio em sua vida. Pela primeira vez admitiu que pensou, sim, que sua carreira havia terminado por causa da prisão.
— No primeiro mês, fiquei muito confuso. Estava vivendo no céu e, de um dia para o outro, fui parar num lugar em que nunca imaginei que poderia estar. Pensei: ‘Pô, não vou mais voltar a cantar, acho que vai acabar a minha vida agora.’ — lembra: — Mas aí encontrei forças em Deus e nas minhas fãs. As músicas tocavam desesperadamente nas rádios e não entendia por que o sucesso aumentava.
Aproveitei para esclarecer algumas histórias, como a que Belo cantava para o diretor do presídio:
— Não é verdade.
E regalias na cadeia?
— Também não.
Mas logo depois, admite:
— Todo preso que tem uma condição financeira, que pode melhorar a sua hora de dormir, uma visita íntima, é claro que vai ter. Não é uma regalia...
Ao deixar a cadeia com a advogada Sandra Almeida: "Não devo mais nada a ninguém, nem à sociedade. Mas tem muita coisa que ficou no ar"
Durante a conversa, pude perceber que Belo hoje mede muito suas palavras. Inocente ou culpado, ele comeu o pão que o diabo amassou na cadeia. Mas soube dar a volta por cima.
— Não devo mais nada a ninguém, nem à sociedade. Mas tem muita coisa que ficou no ar. Cara, é uma coisa que eu não posso falar, é muito complicado. Mas eu sou e sempre fui inocente. Sabe o que você pode colocar? Que eu fui preso por um crime, por tráfico de drogas, sem nunca ninguém ter me prendido com droga, sem eu nunca ter usado droga.
Coincidentemente, o homem responsável pela prisão do cantor, o ex-secretário de segurança pública Álvaro Lins, foi condenado por corrupção a 28 anos de prisão, um dia após a entrevista de Belo à “Canal Extra”.
28.8.2010